quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Silêncio é luto



Como nasce a morte de uma relação? Como começa o fim da admiração? Quando é que o deleite torna-se o luto? Quando trocamos o respeito pela acusação?

Todas essas respostas geralmente vivem implícitas na memória de qualquer relacionamento. O fruto da cumplicidade pode apodrecer da noite para o dia, noites mal dormidas, dias em escândalo de alma escancarada. É insatisfação saindo pela porta. 

É indiferença expulsando apego e apelando para a separação.

Nenhum casal se separa do nada, nenhum relacionamento termina do nada. Todo final tem atestado de óbito, todo funeral de sentimentos tem um motivo, todo início de solidão tem sua causa mortis.

Quando passamos a entrar em contato demais com a decepção, aí sim se inicia o processo do luto absoluto. Da dor inaceitável. Da incompreensão de que no fundo esperávamos demais do outro.Esperamos errado.

Todos nós fingimos que não doeu, todos nós somos mestres em dizer que não foi nada, vivemos morrendo por dentro, engolimos todas as discórdias, tentamos passar por cima do impossível, tentamos esconder a ofensa de nós mesmos, tentamos usar falsas alegrias. Somos palhaços tristes.

O início de todo luto é o silêncio, todo luto tem silêncio.

Ofensas são engolidas durante anos, acusações são arquivadas na alma, sentimentos são sufocados por interrogações, afagos tornam-se tapas da exclamação, é vergonha interior, é sofrimento mútuo disfarçado. 

Todos sofrem sem saber o que fazer, muitos sofrem com medo de tomar a atitude necessária e no passar dos dias sobrevivemos contando os passos rumo ao sepultamento da felicidade.

Silêncio não cura nada. Só machuca mais.

Devemos sim explodir de raiva no ciúme mais louco e sem sentido, pois isso mostra que queremos explodir para continuar. É grito de socorro, é sinal do que deve permanecer. 

É o pedido de não vá embora, é a dor absurda, é ser dramático em favor de um futuro sincero.

O silêncio vai guardando o fim, o silêncio vai escondendo as brechas, o silêncio se deixa dominar pelo desgosto e se entrega. 

Quando busca forças para explodir ele explode muito mais pelo descontentamento que pela continuação.

Quando o silêncio se revela ele chega para terminar.

Quem ama grita!


W.O.



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