Refém

Ela revirou sua caixa de fantasias, defendeu o prazer até o último segundo, ofendeu o final com unhas e dentes, percorreu outras esferas durante preciosos segundos, foi além e retornou com mais vontade de partir novamente. Sentiu o cheiro do escândalo, compartilhou sua sede infinita e voraz.

Sexo para ela começa várias vezes e nunca termina. Ela formaliza a abertura do ato após a consumação. Gosta do que não acaba, deseja sempre estar em contato com o início.

Ela não gosta do trivial do simples ou do normal, ela sempre prefere o sussurrar no ouvido, a carícia lenta e cheia de segundas, terceiras e muitas intenções. Ela vive de emoção, espera a surpresa velada, aguarda a surpresa simplesmente pela atitude mesmo que o ato já esteja estampado. As preliminares, por exemplo, são surpresas estampadas, porém ela as aguarda sempre, imaginando novidades, pensando no prazer que irá sentir, imaginando os dentes mordendo os próprios lábios num ato de desejo involuntário.

Preliminar é o descongelar da vergonha, é a sacanagem saudável, é a nossa lucidez no outro, a busca por satisfazer a quem desejamos. É completar nosso corpo com o corpo de alguém. Completo meu corpo no corpo dela.

Não existe preliminar entre pessoas normais, quando entramos em uma preliminar no sexo nos transformamos, abrimos a porta do diferente, deixamos o outro entrar em nossa nova realidade.

Nossa realidade escondida.

Fale-me o que quiser, diga-me o que prefere ouvir, me entregue seus ouvidos, minha respiração se torna sufoco, meus apelos tornam-se loucos buscando pelo manda e desmanda. Uma loucura arquitetada pelos beijos, pelo caminhar da nudez no quarto, pelo seu sorriso sacana. Como é bom se imaginar a vítima do outro, como é bom manter –se entregue ao cativeiro da paixão.

Na cama não existe resgate.

Não peço resgate. Eu brigo, eu ofendo quem oferecer resgate. Eu quero permanecer aqui preso pela mulher que passeia a boca em mim. Pela mulher que dá voltas e voltas e nunca quer chegar no final das contas.

Um pedido para que eu continue morando dentro dela, é a tradução de como nos tornamos prisioneiros do fascínio.

Ela me prova todos os dias que eu sempre estive certo em meus pensamentos, e em um pensamento em especial:

- Mulher gosta muito mais de sexo que nós Homens!

Nós podemos até falar mais disso, podemos até brincar mais com isso, mas a mulher não fala, ela faz, mulher não brinca. Mulher fala sério no sexo.

W.O.