sábado, 9 de agosto de 2014

Coma Profundo



É sede de pele, é a vontade do toque, é angústia desesperada  no beijo, é olfato definitivo no cheiro. 
Mistura mortal de desejo. Mortalidade que revigora.
Não aprendemos o prazer sozinhos, fomos ensinados através do prazer do outro, aprendemos o toque com o toque de alguém, aprendemos o cheiro com outro cheiro, aprendemos o beijo com outro beijo. 

O beijo do outro.

Sexo é uma escola e nunca uma escolha.

Prazer que recebemos e entregamos ao mesmo tempo. Sem tempo de pensar.
O prazer sempre chega mudo e vai perdendo o silêncio. Começa devagar e vai tomando territórios. Fazendo as primeiras vítimas.

Fetiches em forma de soldados. As mãos correm pela superfície do território escolhido, terra antes só conhecida e devorada através dos olhares silenciosos das trincheiras. Conquista exige espreita. Exige espera. A curiosidade aumenta ainda mais a tensão entre as frentes em choque fatal e inevitável. Colapso de satisfação resultante da atração voluntária.

Mãos queimam, corpos se repelem e se atraem na mesma frequência. Frenética genética do instinto involuntário. O suor que escorre é como a água para a sede, é como a sombra para o sol, é vida na morte.

Me sinto mais vivo depois de morrer nos braços de alguém. Nossas forças terminam por tempo indeterminado, indesejado. Caímos no campo minado de onde brotaram todas as armas, todas as torturas e curas necessárias.
É o cheiro que me sara, é o cuidado na palavra, é carinho de esparadrapo, é a enfermeira dentro do mesmo quarto, é o pedido de silêncio que antes eu só conhecia através dos quadros espalhados pelas paredes dos pronto socorros.

Pronto socorro é ser salvo entre as pernas, ser internado no abraço, ser transferido para a U.T.I. (unidade de tara intensiva), ser deixado por baixo com o coração por cima, ser desfibrilado pelos seios no peito sem deixar escapar nenhuma reação.É olho no olho. Olhares sem roupa.

Eu não quero voltar a vida, quero continuar sendo cuidado, quero continuar levando choques de alto tesão somados as descargas de orgasmos múltiplos e palavras singulares. 

Não quero receber alta de você. Quero permanecer internado dentro da sua vida.

Somos um sempre. Somos uma só vida sempre respirando em nossa falta de fôlego. Vivemos sempre que perdemos o ar. 

Se for para nos faltar algo, que sempre nos falte o ar.

W.O.

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