Seu e-mail apagou meu dia. Transformou as últimas vinte e
quatro horas em profunda escuridão. Recebi um lembrete da dor, um bilhete
avisando que a cicatriz não se fecha, um recado dizendo que a lembrança não
estanca o sangue. Depois de anos de alegrias comuns, surgem os momentos de
tristezas incomuns.
Dor é a surpresa mais dolorosa de todas.
Correspondência que entra pelos olhos, invade a mente, o
coração e escorre novamente por onde entrou. Qualquer final de tarde é noite,
qualquer dia é noite, qualquer pensamento é noite.
Quem superou a dor sempre volta para dizer que não se lembra
mais. Quem mantém a dor sempre vai atrás para lembrar o outro o quanto ainda
continua sofrendo. É um ritual de auto flagelação.
Não sei como começamos, mas sei como terminamos. Sempre nos
lembramos mais dos finais que dos começos. É a dor que nos choca muito mais que
as alegrias. Dor nos marca com fogo, é a tatuagem das nossas atitudes
impensadas, é uma forma de nos lembrar que não somos nada além de reféns de nós
mesmos. Recompensa de minutos que duram eternidades.
Eu não odeio você e nunca teria coragem para isso, mas então
qual o motivo de ter coragem para terminar?
Qual a vantagem em se quebrar em pedaços ao longo dos anos?
A dor da separação nunca vem na hora, ela começa em minutos
e não tem prazo para terminar. Eu ainda ouço suas músicas favoritas, ainda
lembro de suas caras e bocas, ainda me pego sorrindo quando me lembro do seu
jeito engraçado. Ainda resido na própria tortura, ainda discuto com a própria
loucura, ainda não acredito em minhas próprias atitudes. Sobrevivo nas
lembranças mais amargas.
Minha mente é um poço de remorsos.
Me afogo nele sempre que tento tomar mais uma dose de você.
A sensação de não poder reverter os acontecimentos é a mesma
sensação da morte. É o choro pelo que não tem mais volta, é o abraço em outras
pessoas que nos lembra quem se foi. Nos lembra também quem fomos. É a
incapacidade de ser outra vez, é a falta de oportunidade de restaurar um muro
que acabamos de derrubar. É a vontade de fazer sem poder. É um rio que deseja
desaguar num mar que secou. Perde a nascente, perde o destino. Perde a razão.
Hoje me senti assim e foi estranho. Não entendi meus
sentimentos nem sabia o que pensar.
Você me deixou vivo para que eu sempre sinta a falta que
nunca senti antes.
Me deixou vivo para ir tirando a minha vida aos poucos.
Eu sempre ressuscito, sempre sei nascer novamente, me mate
quantas vezes quiser.
Águas do passado podem até molhar a nossa alma, porém não
matam mais a nossa sede.
W.O.
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