terça-feira, 30 de setembro de 2014

Tente

Ser quem você foi. Dizer as mesmas coisas que disse. Fazer as mesmas coisas que fez.

Tente me mostrar e eu te cego com minhas palavras.
Tente me lembrar e eu faço você esquecer de você de uma vez por todas.
Tente me achar e eu faço você mergulhar sem rumo num labirinto infinito.
Tente me prender e eu saio pela porta da frente.
Tente me sequestrar e eu te faço refém.
Tente me acender e eu te apago.
Tente me congelar e eu te aqueço.
Tente me esquecer e eu te lembro.
Tente me fazer chorar e eu me alegro.
Tente me ignorar e eu respondo.
Tente me desmentir e eu serei suas verdades.
Tente ser simples e eu reconhecerei sua tortura.
Tente ser doce e eu expulsarei seu amargo.
Tente dormir e eu serei sua insônia.
Tente abrir as portas e eu debruçarei sobre elas.
Tente o equívoco e eu farei as certezas.
Tente o estúpido e eu farei o correto.
Tente permanecer respirando e eu te afogarei.
Tente evitar os lugares antigos e eu te farei passar por eles.
Tente jogar as memórias fora e eu te farei perder a cabeça.
Tente me matar das lembranças e eu serei uma nova esperança.
Tente dizer meu nome sem sentir nada e eu mesmo sem saber me lembrarei do seu.

Quem você pensa que foi? 

Quem você pensa que é? 

Meu silêncio te incomoda e meu desabafo te sufoca.

Tente reagir contra a nossa paixão.

W.O.


sábado, 27 de setembro de 2014

Um farol


A verdade é que eu não posso mais seguir sem você. De verdade é tudo que eu sinto quando te observo ainda que seja de longe. Atravessei muitos mares em meio a escuridão, enfrentei as piores tempestades para chegar até aqui, para descobrir que você existe além do que eu sinto. Para concretizar a esperança, para transformar a busca em realidade.

Você existe além de mim. Permanece além do que eu sou.

Na busca do encontro eu arrisquei, em meio ao mar mais violento de todos eu chorei e temi pelo pior de todos os desfechos. Temia que a certeza acabasse naufragando na ilusão, temia que a procura adormecesse no decorrer da viagem. Temia atracar distante demais do meu porto seguro.

Passei noites e noites em meio a mais completa insanidade, a sede me trouxe a pior das loucuras. Já me sentia um completo entranho em minha própria embarcação.

Sempre procurei por terra firme, na busca incansável subindo e descendo ondas pelos mares de humores e lamentos distintos. Sempre resisti na espera dessa hora. Meus pés estavam cansados dos solavancos, carregavam a dormência causada por tanta oscilação, por tanta espera sacrificada. Minhas memórias mortas já buscavam ressurreição.

Nunca mudei minha direção em busca da luz do amor, navegando em meio à noite, ou durante o dia, sempre sentia que faltava algo, permanecia cego demais para largar o comando das velas. Preferia resistir aos meus próprios conselhos. Amor não segue intuição, amor segue certeza. 

Agora, somente agora depois de tanta dor, depois de tanta insanidade, depois da mais completa tortura é que eu consigo ver que a luz surgiu quando já começava a perder as esperanças, quando já admitia naufragar em qualquer solidão, quando já não me importava mais em ser lançado pela tempestade sobre os bancos de areia. Quando já não me pertencia mais o próprio destino.

Minha embarcação é a paixão lançada num mar de possibilidades, as ondas são os acontecimentos, as tristezas e alegrias. Nossos altos e baixos. Ás vezes sinto o mar como a mais cruel das realidades, busco me afogar num oceano raso demais, vivo minha sede em meio a uma imensidão de água; mesmo assim sigo viagem.

A luz do farol é um amor que mostra o caminho em meio a total escuridão de sentimentos.

A luz da lua nunca foi nada perto dessa luz, a luz da lua era sufocada pelas sombras da paixão, porém essa luz sempre conseguia romper a mais triste névoa na imensidão.

Esperei toda uma vida caminhando em sua direção, meus pés enfim estão em terra firme e a partir de hoje minha vida jamais tornará solidão.

O farol existe. Ainda que muitos digam que não, ainda que bebam da água dos mares e enlouqueçam, ainda que gritem buscando atordoar os cegos de amor para que encerrem sua busca, ainda que se lancem nas correntezas perdendo esperanças eu sei que o farol existe. 

Sua luz sempre ilumina minha certeza infinita.

W.O.

domingo, 21 de setembro de 2014

Corredor da vida ou morte



Algumas paixões terminam e tornam-se verdadeiros sofrimentos. A liberdade de gostar transforma-se em pena de morte. A alegria mergulha na tristeza mais profunda, o sorriso se esquece de existir novamente, encontra-se ocupado abraçando o choro.

É um fruto do acaso providenciado por dois destinos que se enganaram, trocaram idas e vindas, renunciaram o sossego e terminaram caminhando em direção ao corredor da solidão. 

Nas celas da alma o silêncio é a pior forma de isolamento, é inútil culpar a si mesmo, é perda de tempo encontrar culpados. Todos já conhecem o réu, mas ninguém é tão solitário quanto ele.
Atrás de grades criadas por alguém, percebemos o quanto somos fracos, o quanto somos vulneráveis, o quanto nos esforçamos para sair da prisão e acabamos nos prendendo ainda mais. Perdemos as forças na tentativa de sermos mais fortes. 

Minha única solução é esperar pelo fim da sentença, é esperar que os portões se abram sem que eu perca as forças, é esperar pela liberdade incondicional. Não sinto mais fome, meu quarto é uma solitária improvisada. Eu sou meu próprio carrasco sempre que rejeito destrancar a porta, sempre que recuso me deixar ir, sempre que nego minha própria liberdade. Gostamos de sofrer sem necessidade. Temos fascínio pela dor.

Encontramos necessidades onde elas não existem.

Meus movimentos são compassados em direção ao corredor definitivo, as portas se abriram, mas eu não vou sair lá fora, eu não vou ver mais a luz do dia, eu não vou mais correr pelas ruas da liberdade, eu não vou mais sentir o vento batendo no rosto, não vou mais ser eu mesmo.
 
A sala tem uma luz muito forte que ilumina só o centro onde estarei preso, é um espetáculo de tortura, é o palco pronto para o extermínio dos sentimentos. É a primeira luz que não ilumina nada. É uma falsa luz. 

Agora sou o pior dos prisioneiros, sou inofensivo. Mãos e pernas atadas sem que nada possa ser feito, nem um movimento, nem um alarme falso, nem um sinal de vida própria.

Vou me apaixonar novamente.

Toda paixão é uma prisão, todo sentimento é um corredor da morte, todo fim é uma sentença. É a cadeira elétrica. Essa luz que ilumina a sala perderá as forças durante alguns instantes para que eu não sofra tanto, será a vida ofuscada pela lembrança do que não foi.

Não vou sofrer. Não vou me mover durante a execução. A paixão é dolorosa quando se vai e nos leva vários sentimentos, porém o amor que estava nascendo dará o único sinal em resposta a tamanho massacre. 

Enquanto eu morro e a paixão vai perdendo vida, escorre uma lágrima dos olhos mostrando que existia lá no fundo mais amor ainda. 

Podem me matar, mas eu sempre sei nascer novamente, eu sempre volto mais forte e entrego o amor na próxima vida. 
 

W.O.