sábado, 2 de agosto de 2014

Nunca me Arrependo






Eu ainda sou o menino da porta da escola. Nunca desejei o óbvio, mas o mistério sempre me atraiu.
Fosse com um gesto escondido expondo a vergonha tímida, fosse através da reclusão particular da alma.

Nunca gostei do que estava na cara, sempre me apaixonei pelo mais complicado, pelo mais difícil. 
Foi pelo impossível que criei amores e descobri que poderia amar.

Um pedaço de papel sempre me fez traduzir o que ninguém conseguiria entender com palavras. 
Foi um treino da época em que eu ainda não sabia falar. Fazia mais do que falava sem a intenção de ter.
Palavras escritas viraram Frases, frases viraram bilhetes, bilhetes viraram cartas e cartas me faziam falar de verdade.
Era amor pela tinta preta no papel, era a coragem traduzida em reflexões marcadas num fundo branco.
Meus sentimentos estavam ali, expostos. Eu estava ali exposto, mais do que nunca.

Diante das palavras eu me deitava num espaço confortável. Eu esperava pela hora certa de falar e enquanto isso ia treinando em pedaços de papel. Ainda não estava preparado para encarar um oceano de possibilidades de uma alma feminina que me aguardava.

Eu sabia que tudo era sincero, eu dizia isso num tom mais baixo, numa entrega muda de palavras com destino certo.

Eu escrevi mais uma carta, a verdadeira, a derradeira…

Escrevi por dias, pensando em um único dia…

Entreguei, me entreguei…

“O amor não é melado, o amor é doce. Não é dependência e muito menos explicação. O amor nunca esteve pronto antes de ser o amor. Ele assim como eu gaguejou, derrubou coisas, foi desajeitado e engraçado, foi simples. Ele escreveu o que não sabia falar dentro de mim, mandou eu te dizer, mas eu me senti como ele, então também copiei dele e decidi escrever antes de tentar falar, pois você não merece qualquer coisa. Amor é construído, nunca chega pronto. Não se percebe quando chega, não se pode filmar ou guardar nas gavetas, pois amor é desconhecido. Mesmo depois de uma vida inteira de amores ele ainda será um desconhecido, assim como eu aqui agora. Então não me faça falar, só me deixe ser, só me queira ser assim como eu sou. Só me queira num querer mudo, assim como sem palavras eu quero você”.

Depois desse dia eu nunca mais fui virgem de sentimentos, meu orgasmo sempre foi à busca pela palavra certa, pelo olhar que pede o toque, pela sensação que a beleza de dentro trás chamando a de fora.

Morrer de amor é o único motivo de estar vivo.

Sempre busquei o amor e nunca me arrependi.


W.O.





























































Um comentário: