Se concordamos não foi estupro, se fechamos os olhos para as
consequências não foi crime, se enlaçamos as mãos e nos libertamos não foi
prisão, se dividimos o mesmo ar não foi sufoco.
Foi pouco, foi louco, foi livre, porém oco.
Mesmo sabendo que não tínhamos futuro algum eu consentia em
ter você por longas noites, eu sentia que cada dia era menos um entre nós,
despejava a presa de viver o que não existia. Não sabia quem era você, nunca
soube, mesmo tentando responder as minhas próprias interrogações: Uma amiga? Uma
mulher? Uma puta? Uma dama? uma Outra? Não se iluda, isso não me tornaria
alguém melhor para você, pois você nunca foi minha.
Eu vivia o seu vazio, desfilava suas mortes em mim, sentia o
peso do seu fracasso na minha pele, morria junto, caminhava em meio à direção
confusa.
Nada foi suficiente, tudo era pouco, o pouco possuía sua
alma em busca da minha e eu não iria me entregar. A alegria do início
tornava-se com o tempo, a tristeza do fim, um triste alívio meu ou um feliz sufoco seu.
Conformando-se consigo mesma, você abraçou de vez a
meretriz do fracasso, se trancou na própria imundícia, calou-se na solitária
solidão que sempre foi sua. Tudo que houve foi consentido, sempre busquei um
sentido para estar com você, hoje eu entendo que todo esse tempo serviu de
exemplo, largou no vento quem realmente era você.
As mãos que antes não largavam são as que hoje deixam ir...
Não sinto falta de quem você era, sinto falta de quem você
nem tentou ser.
W.O.