terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Você chuva...

Eu sempre gostei de observar a chuva. Perceber nos reflexos a água da chuva, sempre admitindo a necessidade de observar as gotas que escorriam pelo lado de fora da janela; era um espelho do meu interior, era a passagem de volta para eu mesmo.

Era a cura pela simplicidade, a dança sincronizada das gotas escorrendo pelo vidro, era o simples que me encantava trazendo a amnésia boa.

Eu poderia passar horas ali diante de uma imensidão de sonhos somente visualizados através da janela da minha casa.

Um relacionamento vislumbrado por muitos, porém tocado por poucos também funciona assim. Alguém simples nos encanta pela facilidade com que prende nossa atenção, podemos passar horas observando a dança das palavras como a água escorrendo pelo vidro. Esse alguém nos faz esquecer tudo, chama a nossa atenção de distraída, cega nossas memórias frias e cicatriza até as maiores feridas. Esse alguém é um espelho. Cabemos um no outro sem quebrar nada.

Não entendo quem parte para a bebida após o fim de um relacionamento. Tentar mudar um estilo de vida do dia para a noite não costuma funcionar. A solidão não precisa ser desesperadora assim como a felicidade também não precisa ser infinita. Fracasso a gente não brinda, fracasso a gente corrige, recalcula o GPS da alma em busca de um caminho melhor.

Não resolve viver se lamentando.

Que a imensidão me surpreenda como um dia eu já fui imensidão. Preciso de alguém que transborde em mim e não apenas me consuma.

Que você seja a única chuva...

Que você nunca passe...

W.O.





sexta-feira, 13 de maio de 2016

Solteiros...

Ser solteiro é ter uma aliança consigo mesmo, não é fácil, ás vezes nem mesmo sozinhos nós nos toleramos; deixando de nos implicar ou de nos complicar. Quase sempre não conseguimos nos entender.

O solteiro bem resolvido não teme a solidão, pois vive bem consigo mesmo, é altruísta, assexuado no amor, dependente na paixão por si mesmo, quase um narcisista de alma. Ele demonstra as incertezas quando passa por dificuldades, mas exala otimismo por saber conviver com sua própria presença.

O solteiro mal resolvido teme a solidão, na verdade até por se considerar mal resolvido ele ainda não definiu se deseja ou não seguir na vida de forma singular. Seu pensamento sempre será um plural. Ele teme que a sua escolha seja a errada, que seu tiro seja de raspão, que sua vida nunca mais tenha o mesmo sentido depois de ter sido eleito por uma pseudo- solidão.

Solidão essa que nem sempre nasce quando estamos desacompanhados.

Já vivi solidão ao lado de outra pessoa, já velei a felicidade em meio à multidão, Já enterrei minhas vontades diante de grandes plateias. De nada adianta buscar a felicidade no outro para tentar minimizar nossa tristeza. Não adianta buscar o sucesso no outro para amenizar nosso fracasso, a saúde do outro para acalmar nossa doença.

Precisamos é da cura. Precisamos receber alta de nós mesmos, deixar de lado os infortúnios do passado, sair dos aparelhos, voltar a respirar o ar de uma pessoa de verdade.Viver dentro de alguém que nos traga de volta a vida.

Alguém que seja um desfibrilador de alegria e bons sentimentos.

A vontade de viver tem que existir primeiro em nós, seu brilho é que deve atrair a luz do outro e nunca a sua escuridão.

Ser solteiro nunca será um demérito, desde que você goste sempre mais de você primeiro do que do outro e depois sinta prazer em gostar do outro.

Melhor a alegria de caminhar sozinho todos os dias dando risada da vida e de si mesmo, que a triste sensação de uma falsa companhia com prazo de validade vencido.


W.O.





segunda-feira, 2 de maio de 2016

Encontro e Despedida...

Sempre me preparei para o encontro e nunca desejei a despedida. Não fui preparado para o divórcio de alma, separação de corpo, despedida inesperada. Toda despedida é inesperada, ainda que tramada, arquitetada, pensada, fundamentada, construída e desejada. Despedida é marca. Você sempre briga e ameaça, sempre discute e fala, sempre chantageia e cala.

Caminha em direção à porta e para.

Ninguém conta com a despedida, pois sempre pensamos que ela nunca vai acontecer, o outro sempre desafia a nossa coragem, subtrai nossa imagem, altera nossa imparcialidade. Até que ela vem. Chega a hora e abre se a porta; dobram-se as roupas, calam-se as bocas, fecham-se os olhos, matam-se os sonhos. Todos sepultados num “Descanse sem paz”, “sem mais”.

Viagem sem volta, tormento à volta.

No encontro entregava-se ternura, carinho e emoção, na despedida vendemos caro um simples pedaço de solidão.

Minha alma te deixou, me expulsou do seu corpo. Levei comigo os cheiros, gestos, vetos, palavras, sensações e espantos. Tudo para dividir sozinho, deixado em algum canto.

O encontro é esperança renovada, a despedida é rotina amargurada.

O encontro é alívio no outro, a despedida é o desespero solto.

O encontro é mais uma chance, a despedida é o mesmo fracasso de antes.

No encontro vivemos a cor da renovação, na despedida morremos no escuro da decepção.

Encontro é ressurreição, despedida é morte.

Sempre será necessário morrer no outro para encontrar alguém melhor. Sem o luto não existe renascimento, sem o luto não se enterra o passado.

É preciso viver o inferno da separação para renascer no céu de uma nova paixão.


W.O.


(Arte de J.W. Waterhouse).






terça-feira, 26 de abril de 2016

Já é tarde...

Vasculhei minhas gavetas e armários procurando uma camisa, havia acordado atrasado para o trabalho, pulei da cama e quase cai dentro do guarda-roupa. O atraso me fazia querer segurar pelos ponteiros do relógio, minha vontade era que o tempo voltasse, pelo menos por alguns minutos, mas era em vão. Atrasei-me, senti o arrependimento pela demora, adormeci no paraíso da imaginação e despertei no purgatório da acusação.

Não havia mais tempo para pensar, enquanto eu o fazia, o tempo cortava a velocidade da luz, era impossível voltar. Enquanto com uma das mãos colocava a camisa, com a outra segurava pela barra da calça, os dentes serrados mantinham minha gravata presa, me senti um malabarista de circo, notei que uma simples atitude transformara minha vida em uma bagunça, uma palhaçada inesperado, uma comédia sem plateia, um fracasso só meu.

Nunca sonhei perder meu emprego.

No amor também perde se a hora, adormecemos na zona de conforto arquitetando o inferno do outro e acordamos solitários. Não existe amor que suporte a indiferença do atraso, em doses constantes, em malabarismos desconcertantes tentando concertar. O atraso de ser gera a falta de fazer, mata à atitude e ressuscita o anonimato.

Você pode estar junto com alguém por anos e ainda assim ao acordar deparar-se com um estranho, não que ainda exista o outro do seu lado, mas se depara consigo mesmo, a solidão expõe quem somos de verdade.

A solidão nos encara, nos desmascara com os dentes rindo de nossa ilusão.

No amor não existe maior engano que o de imaginar que já não precisamos fazer mais nada, que o jogo está ganho, que a pessoa que conquistamos não precisa mais da atenção do começo, não necessita mais dos cuidados de médico, da compreensão de ouvinte, da gentileza de alma, da selvageria de corpo.

No amor a certeza pode ser perigosa.

Conquista é casamento de todos os dias, sem ela morremos no divórcio da felicidade, abraçados a nossa solidão.


W.O.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Antídoto.

Hoje eu fiz uma visita ao meu médico particular e depois de contar-lhe toda a situação que rondou os meus últimos meses de vida, seu diagnóstico foi o seguinte:

- Você não tem nada e ao mesmo tempo tem tudo!

A consulta, realizada em uma mesa de botequim foi com o Paulo, amigo de longa data, meu primo de sangue e médico por ofício. Atende-me nas horas vagas, nas horas em que eu vago por aí. Entre uma cerveja e outra Paulo me socorria, perguntava o que eu estava sentindo e eu embalava em uma nova história; entre conclusões e interrogações, Paulo só tinha cada vez mais a certeza de que meu estado era grave, ora olhava nos meus olhos e morria de rir, ora colocava as mãos na cabeça e embutia um semblante de preocupação misturada a admiração, pois sabia que eu  havia me tornado um viciado em me apaixonar e não tinha mais volta.

Ele me disse que caso continuasse dessa forma, eu passaria a frequentar as bocas por aí, faria uso dos perfumes alheios e passaria a furtar lingeries de vários tipos como forma de marcar a minha infinita delinquência emocional e sexual pelas mulheres.

Contei a ele que em uma das últimas tentativas de conseguir sobreviver nesse mundo de escravidão sentimental, fui roubado e também roubei, roubei muito, tirei tudo de várias mulheres, inclusive a roupa. Na tentativa de sequestrar alguém, quem foi mantido em cárcere privado fui eu. Não deu certo, minha relação com a refém foi péssima e a libertei mesmo sem pedir resgate, minha libertação foi deixa-la partir. Nas tentativas de assalto á mão amada, fui recolhido pelo policiamento do meu passado, pelas rondas de minhas ex no meu facebook e whatsapp.

Contei também que depois de tantas tentativas eu resolvi ficar na minha, pois a última delas não havia sido bem sucedida, preferi me dedicar ao meu trabalho, a alguma atividade física que pudesse substituir temporariamente o sexo, jogos e passatempos para me distrair desse mundo marginal.

Paulo ouviu tudo e me questionou:

- E adiantou se afastar desse mundo?

Eu dei mais um gole no último copo de cerveja e respondi de forma negativa balançando a cabeça de um lado para o outro. Consegui ficar longe disso somente um mês ou dois, a paixão foi me buscar como os traficantes fazem, invadiu meu coração e levou tudo, me levou junto, me entregou para um novo alguém. Eu tentei negociar, tentei deixar claro que esse tipo de crime não compensava mais e que poderíamos somente viver aquela noite e nunca mais nos vermos; 

Foi em vão.

Depois daquela noite, depois de ficar junto das 21:30hrs da noite até ás 07:00hrs da manhã do dia seguinte eu percebi que continuo viciado em ser feliz, viciado no antídoto para o que nunca deu certo,para uma doença que nunca encontrou sua cura, viciado em fazer feliz aquela que veio se apaixonar, veio me apaixonar...

Não tenho mais nada com o meu passado e tenho tudo de novo podendo amar.


W.O.

sábado, 2 de abril de 2016

Mausoléo de Amores

Todas elas estão lá. São muitas histórias para contar, recordações, lágrimas, mentiras, memórias, arrependimentos, justificativas, medos, dores, reclames, derrotas e vitórias.

Cada uma das mulheres que passaram por mim permanecem cativas de si mesmas.

Foram hospedadas num local de minhas memórias, um memorial de lembranças carinhosas e de aprendizados insolúveis.

Cada uma delas recebeu transferência depois de cumprida sua missão. Passaram por mim, permanecendo o tempo suficiente para que agora gozem de um descanso merecido.

Foi o purgatório da paixão.

Todas elas vivem os dias se dedicando as lembranças. Enquanto costuram uma toalha de ressentimentos e saudades,emendam uma conversa que recai sobre minhas atitudes passadas – elas continuam reféns dos próprios amores – conversam sobre como foram parar ali, tentam compreender o que deu de tão certo ou de tão errado em suas vidas. Não entendem o motivo de serem perseguidas por minhas memórias mesmo depois de mortas.

Foram perseguidas em suas vidas ao meu lado e permanecerão perseguidas em minhas lembranças. Foram sugadas por minhas felicidades.

Algumas delas se lembram de mim com saudade, outras com tristeza, arrependimento, friezas e alegrias. Hora tenta esconder o sorriso, hora busca estancar a lágrima.

Com o passar dos anos a lotação aumenta, porém nem todas recebem visitas...
Muitas delas foram abandonadas pela família da esperança, outras foram inundadas pelo desespero da solidão, porém algumas já não sentem mais nada; nenhuma emoção as toca, nenhum sentimento as invoca.

Cada uma delas morreu de convivência, as causas não foram totalmente conhecidas, porém ambas testemunham inúmeras sensações.

Sempre que posso levo flores e as visito em meus pensamentos...

W.O.


segunda-feira, 28 de março de 2016

Despida despedida...

Ele não vai mais chegar no mesmo horário de sempre.
Ela não vai mais sair pensando na volta.
Ele não se sentirá abraçado outra vez.
Ela não vai mais transbordar no abraço dele.
Ele não deixará mais o seu cheiro na cama.
Ela nunca mais dormirá da mesma maneira.
Ele não combinará mais os banhos demorados.
Ela não vai mais esperar no chuveiro.
Ele não levará mais as chaves ao sair para o trabalho.
Ela não pensará mais a que horas ele vai voltar.
Ele não vai mais se despir de libido e juramentos.
Ela não acordará mais vestida de beijos.
Ele não vai mais encontrar motivos para presentes fora de época.
Ela não vai ter mais vontade de comemorar as datas.
Ele tentará esquecer o sorriso inesquecível.
Ela tentará esconder o riso sempre que lembrar-se dele.
Ele tentará ser outro depois dela.
Ela esconderá que já é outra depois dele.
Ele sempre será um pouco dela.
Ela sempre terá um pouco dele.
Ele nunca dirá adeus.
Ela sempre vai dificultar a despedida.

Despida de ódios, ela é linda como jamais imaginei...
Ele, tem um pouco de mim nas mãos da despedida.


W.O.