Na sala de casa existe um lugar onde mora
parte da minha saudade. São páginas que já foram viradas e reviradas, são
lembranças frente e verso de momentos inesquecíveis.
Em uma gaveta da estante ficam guardados os
álbuns de fotografias. As fotos antigas, os amigos antigos, os sorrisos
antigos, os momentos e os sentimentos ainda atuais.
A saudade não precisa de provas para mostrar
que permanece viva, porém quando se encontra com o passado ela se entrega. Não
resiste, perde a defesa, baixa a guarda que não tem, libera as lágrimas e solta
o choro.
Sentir saudade é agradecer a si próprio sem
esquecer do outro.
As páginas por mais amareladas que estejam
ainda causam o mesmo efeito de anos atrás, ainda deixam a visão nublada, ainda
transformam expressões, ainda fazem transbordar dos olhos o resultado molhado
das lembranças de ontem, das lembranças que jamais serão apagadas de nós.
As
fotos são os despertadores de muitas saudades que ainda adormecem dentro de
nós.
Vou revirando páginas e encontro fotos da
minha infância sentado ao lado do meu pai na sala de casa, sem pose, sem nada
premeditado. As atitudes dele sempre foram na emoção, e na emoção não existe
plano. Continuo minha jornada pelo meu passado, pelo passado de outros e no revirar
das páginas encontro fotos dos aniversários onde diferentes amigos dividiam as
mesmas alegrias, onde a inocência brindava a infância com refrigerante
"Crush", com Guaraná "Taí". Tudo era motivo de festa, tudo
era simples, mas muito bonito. Tudo que era sentido fazia sentido, éramos
inocentes sem querer.
Revejo fotos das peças na escola, fotos dos
meus livros, fotos dos abraços na minha mãe, da festa na sala de casa junto com
meu irmão quando nosso time foi campeão, fotos de quando tentei tocar bateria,
de quando comecei uma banda, de quando cortei os cabelos, de quando descobri
amores e de tanta coisa que achei que fosse ser para sempre. Mal sabia eu que o
tal "para sempre" duraria somente até a próxima página.
As pessoas podem ir, mas a saudade fica.
Saudade não sabe ir embora.
A vida tem sempre uma próxima página a ser
escrita e seu tema geralmente vem da página anterior. Melhora-se o texto,
encontra-se palavras que antes não eram imaginadas.
O que mora em mim é saudade. Muito mais forte
e rica que as fotos, muito mais viva que as cores, muito mais marcada que a
impressão no papel. Saudade é um sentimento único que pode ser regado com
alegria ou velado com tristeza. Saudade não tem como esconder, ou se manifesta
pelo sorriso ou pelas lágrimas nos olhos, ficamos sem palavras, sem ações, pois
saudade não tem explicação.
Posso fechar os álbuns, posso guardar as fotos
e mesmo assim continuarei sentindo saudade.
Saudade que criamos, saudade que enfrentamos,
saudade que matamos, saudade que vivemos, saudade que plantamos, saudade que
colhemos.
Saudade minha.
W.O.
(Arte de José ferraz de almeida Júnior)
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