quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Saudade minha

Na sala de casa existe um lugar onde mora parte da minha saudade. São páginas que já foram viradas e reviradas, são lembranças frente e verso de momentos inesquecíveis.
Em uma gaveta da estante ficam guardados os álbuns de fotografias. As fotos antigas, os amigos antigos, os sorrisos antigos, os momentos e os sentimentos ainda atuais.
A saudade não precisa de provas para mostrar que permanece viva, porém quando se encontra com o passado ela se entrega. Não resiste, perde a defesa, baixa a guarda que não tem, libera as lágrimas e solta o choro.
Sentir saudade é agradecer a si próprio sem esquecer do outro.
As páginas por mais amareladas que estejam ainda causam o mesmo efeito de anos atrás, ainda deixam a visão nublada, ainda transformam expressões, ainda fazem transbordar dos olhos o resultado molhado das lembranças de ontem, das lembranças que jamais serão apagadas de nós. 
As fotos são os despertadores de muitas saudades que ainda adormecem dentro de nós.
Vou revirando páginas e encontro fotos da minha infância sentado ao lado do meu pai na sala de casa, sem pose, sem nada premeditado. As atitudes dele sempre foram na emoção, e na emoção não existe plano. Continuo minha jornada pelo meu passado, pelo passado de outros e no revirar das páginas encontro fotos dos aniversários onde diferentes amigos dividiam as mesmas alegrias, onde a inocência brindava a infância com refrigerante "Crush", com Guaraná "Taí". Tudo era motivo de festa, tudo era simples, mas muito bonito. Tudo que era sentido fazia sentido, éramos inocentes sem querer.
Revejo fotos das peças na escola, fotos dos meus livros, fotos dos abraços na minha mãe, da festa na sala de casa junto com meu irmão quando nosso time foi campeão, fotos de quando tentei tocar bateria, de quando comecei uma banda, de quando cortei os cabelos, de quando descobri amores e de tanta coisa que achei que fosse ser para sempre. Mal sabia eu que o tal "para sempre" duraria somente até a próxima página.
As pessoas podem ir, mas a saudade fica. Saudade não sabe ir embora.
A vida tem sempre uma próxima página a ser escrita e seu tema geralmente vem da página anterior. Melhora-se o texto, encontra-se palavras que antes não eram imaginadas.
O que mora em mim é saudade. Muito mais forte e rica que as fotos, muito mais viva que as cores, muito mais marcada que a impressão no papel. Saudade é um sentimento único que pode ser regado com alegria ou velado com tristeza. Saudade não tem como esconder, ou se manifesta pelo sorriso ou pelas lágrimas nos olhos, ficamos sem palavras, sem ações, pois saudade não tem explicação.
Posso fechar os álbuns, posso guardar as fotos e mesmo assim continuarei sentindo saudade.
Saudade que criamos, saudade que enfrentamos, saudade que matamos, saudade que vivemos, saudade que plantamos, saudade que colhemos.
Saudade minha.
W.O.
(Arte de José ferraz de almeida Júnior)

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