quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Paixão Prostituta


Pior que o amor bandido, só a paixão prostituta. Uma ingrata surpresa nas esquinas da alma.
Ela sempre nos aguarda com a paciência de um monge tibetano, sempre nos observa com a perícia de um franco - atirador, sempre nos atrai como o maior de todos os ímãs, sempre nos desarma com o pior dos assaltos, sempre nos tranca e joga a chave fora como o mais cruel dos carcereiros. O carrasco da masmorra.   

Ela nunca pede licença, pois não é regida por educação ou jurisdição alguma que não seja a do acaso. 
Nunca nos convida, pois não sabe pedir, nunca nos abraça, pois teme deixar de ser o que é. 

Paixão assim não deseja se tornar amor. Prefere continuar se prostituindo de alma em alma.

Para a paixão prostituta, transformar-se em amor seria o beijo na boca. Seria inadmissível entre as outras integrantes do seu clã, seria a deserção completa da neutralidade, seria o abandono da frieza e o flerte com os próprios sentimentos.

Ela tem uma falsa reputação a zelar. Vive da falsa aparência e morre com o que realmente sente. Morre com o que é.
Somos induzidos pela carência a encontra-la todas as noites. Nos deparamos contando nossos planos, dividindo reclames, agradecendo dores e exalando os próprios horrores. 

De nada adiantará. Ela ouvirá tudo o que disser, sem dar uma palavra, um conselho, um palpite, um chute na boca que seja e irá embora. Se levantará da cama, vestirá sua pouca roupa e sairá pela mesma porta que entrou.

É engano doloroso tentar converta-la ao amor. Ela é incrédula de afeto e crente em sua falsa justiça.
Paixão prostituta já pode ter sido amor um dia. Amor que não vingou por falta de insistência ou de vontade mesmo. Pode ter sido verdade um dia que preferiu se recolher ao invés de encarar novas mentiras. Pode ter sido carinho por um dia que sofreu descaso de anos e anos.

Sentimentos não sobrevivem quando são renunciados.

É difícil entende-la, mas fácil demais percebe-la.

A paixão que se prostitui na alma não é nada além de nossas vontades, misturada a nossos medos e anseios. Ela pode ter sua origem na procura louca e desenfreada por amor, na busca pelo conselho dos amigos que acham que sabem sempre o que é melhor para nós, na paranoia de nunca saber viver sozinho.

Um dos lados da cama vazio pode ser sinal de abandono, mas também pode ser sinal de alívio.

O amor ainda que bandido serve para nos roubar para o outro, serve para tirar de nós a surpresa e dar ao outro, serve para declararmos nossa própria renúncia em nome do que será junto.

Paixão prostituta nunca entregará nada, nunca abrirá mão dos próprios interesses, nunca reconhecerá sentimentos e nunca beijará o amor.

Não vivo mais nas esquinas da paixão, me recolhi para a casa do amor. 

 W.O.

2 comentários:

  1. Muito belo! Quem é o autor para eu citá-lo(a)?

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    1. ítalo bom dia, o Autor sou eu mesmo, escrevo crônicas já a algum tempo e fico feliz por ter gostado do que leu, estou sempre tentando atualizar o blog, pois tenho várias crônicas já escritas aguardando publicação.

      Obrigado pelo comentário.

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