Algumas paixões terminam e tornam-se verdadeiros sofrimentos.
A liberdade de gostar transforma-se em pena de morte. A alegria mergulha na
tristeza mais profunda, o sorriso se esquece de existir novamente, encontra-se
ocupado abraçando o choro.
É um fruto do acaso providenciado por dois destinos que se
enganaram, trocaram idas e vindas, renunciaram o sossego e terminaram
caminhando em direção ao corredor da solidão.
Nas celas da alma o silêncio é a pior forma de isolamento, é inútil
culpar a si mesmo, é perda de tempo encontrar culpados. Todos já conhecem o
réu, mas ninguém é tão solitário quanto ele.
Atrás de grades criadas por alguém, percebemos o quanto
somos fracos, o quanto somos vulneráveis, o quanto nos esforçamos para sair da
prisão e acabamos nos prendendo ainda mais. Perdemos as forças na tentativa de
sermos mais fortes.
Minha única solução é esperar pelo fim da sentença, é
esperar que os portões se abram sem que eu perca as forças, é esperar pela liberdade
incondicional. Não sinto mais fome, meu quarto é uma solitária improvisada. Eu sou
meu próprio carrasco sempre que rejeito destrancar a porta, sempre que recuso
me deixar ir, sempre que nego minha própria liberdade. Gostamos de sofrer sem
necessidade. Temos fascínio pela dor.
Encontramos necessidades onde elas não existem.
Meus movimentos são compassados em direção ao corredor
definitivo, as portas se abriram, mas eu não vou sair lá fora, eu não vou ver
mais a luz do dia, eu não vou mais correr pelas ruas da liberdade, eu não vou
mais sentir o vento batendo no rosto, não vou mais ser eu mesmo.
A sala tem uma luz muito forte que ilumina só o centro onde
estarei preso, é um espetáculo de tortura, é o palco pronto para o extermínio
dos sentimentos. É a primeira luz que não ilumina nada. É uma falsa luz.
Agora sou o pior dos prisioneiros, sou inofensivo. Mãos e
pernas atadas sem que nada possa ser feito, nem um movimento, nem um alarme
falso, nem um sinal de vida própria.
Vou me apaixonar novamente.
Toda paixão é uma prisão, todo sentimento é um corredor da
morte, todo fim é uma sentença. É a cadeira elétrica. Essa luz que ilumina a
sala perderá as forças durante alguns instantes para que eu não sofra tanto,
será a vida ofuscada pela lembrança do que não foi.
Não vou sofrer. Não vou me mover durante a execução. A paixão
é dolorosa quando se vai e nos leva vários sentimentos, porém o amor que estava
nascendo dará o único sinal em resposta a tamanho massacre.
Enquanto eu morro e a paixão vai perdendo vida, escorre uma lágrima
dos olhos mostrando que existia lá no fundo mais amor ainda.
Podem me matar, mas eu sempre sei nascer novamente, eu
sempre volto mais forte e entrego o amor na próxima vida.
W.O.
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